domingo, 28 de abril de 2013

Comemoração do 25 de Abril: “Onde estão os Baltasar Lopes deste país?”



Na geração de hoje, “onde se encontram os Baltasar Lopes da Silva?” Foi uma das perguntas que ficou, lançada pelo encenador João Branco, após encontro realizado esta quinta-feira (25) no Centro Cultural Português entre escritores como Germano Almeida e Carlos Araújo, historiadores e jovens estudantes, em comemoração ao 39 aniversário do 25 de Abril. Uma data que simboliza a travessia do povo lusitano para um novo regime político, com seus reflexos na libertação de Cabo Verde, posteriormente, em 1975.

O encontro, que ficou marcado pela leitura de algumas passagens de três obras literárias de escritores cabo-verdianos – A Dona Pura e os Camaradas de Abril de Germano Almeida, Entre duas Bandeiras de Henrique Teixeira de Sousa e Percurso Vulgar de Carlos Araújo – com passagens e testemunhos das histórias vividas em Portugal e Cabo Verde, traduz-se, nas palavras da directora do Centro Cultural Português do Mindelo, Ana Cordeiro, numa “multiplicidade de olhares que é mais difícil conseguir numa análise histórica”.

Após leitura dessas três obras e da troca de experiências  com testemunhos na primeira pessoa de acontecimentos ocorridos tanto em Cabo Verde como em Portugal, e em jeito de “provocação”, o dramaturgo questiona os motivos que impulsionam as atitudes dos jovens de hoje, numa espécie de descontinuidade com a atitude proactiva que marcou as gerações anteriores, então marcada pelas clivagens histórico\partidárias, particularmente numa altura onde se efectivaram as grandes revoluções. Perante a forma como, “se pôde constactar como este assunto efervescia no liceu, na vossa geração, pergunto, quantos estudantes universitários sabem o que é o 25 de Abril e sua importância para a independência de Cabo Verde? Que tipo de engajamento político é que esses estudantes têm hoje? Que tipo de preocupações têm hoje?”, questiona Branco, lembrando que hoje se vive um outro tipo de ditadura, “uma ditadura económica, uma ditadura financeira”.

A proposta do Instituto Camões de trazer os três romances para se “debater”, “discutir” sobre a revolução e a forma como foi vivida e percebida pelos dois países (Portugal e Cabo Verde) e a ponte que se estabeleceu entre esta mudança de regime português para a independência do povo de Cabo Verde, veio, nas palavras de Ana Cordeiro “por um lado (…), recordar, revisitar o 25 de Abril”, com a presença de “protagonistas desse acontecimento histórico” e, por outro, “dar vida a essa data para aquelas pessoas muito jovens para os quais, de facto, é apenas mais uma data histórica”.

“Penso que a literatura é fundamental para a história, porque a literatura traz-nos aquilo que se chama poeticamente o ar do tempo, a espuma dos dias. Ao fim e ao cabo a literatura traz-nos aquilo que não é facilmente tangível que são os sentimentos, que são as ideias, os pontos de vista, enfim o próprio humor”, sublinha Cordeiro. Nas palavras de Germano Almeida, “o 25 de Abril apressou a independência e foi importante” para o povo de Cabo Verde, diferentemente de Portugal, pois para esse povo “não terá sido o que eles sonharam, o que eles quiseram”, lembrando, no entanto, que “há sempre o amanhã e sempre há amanhãs que cantam”.