sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Apenas escrever

Cada vez que passo por estas linhas, sinto uma necessidade gritante dentro de mim que rasteja por mais palavras minhas a preencher estes espaços em branco. Uma necessidade que por vezes me incomoda, até parece que tem pressa e que foge da morte!

Sempre que repiso nos traços que desenho, fecho uma porta da minha alma, abrindo um sorriso encrespado, que se escapa aos pedaços, por cada vez que se me aparece a frente uma lufada angelical de frescura. Divina frescura, que resplandece por momentos o meu espírito e desata os nós da minha garganta para que eu possa respirar.

Tranquilidade efémera. Tudo passa e me abandona neste inebrião de condolências -  entre o que sou e o que fui, entre mim e os meus pecados e os pecados dos outros que me corroem a alma.

A cada pensamento meu, mais um cambalear de reprimendas mentais, e uma sensação pura de querer despejar tudo e de não conseguir.

Mas sempre acaba por aparecer um novo espaço em branco, e sinto que já ando nisto há tempo demais – nesta nudez, neste vazio, neste silêncio que me apavoram e me perseguem, criando cada vez mais conflitos entre o meu corpo e a minha alma. E isto dói, uma dor sem tamanho. E isto me enfraquece e me consome, ao mesmo tempo que me enaltece e me faz sentir maior. Uma confusão tremenda que não me deixa descansar, sempre insatisfeito com aquilo que faço, com aquilo que digo, com os olhares dos outros, com os meus próprios movimentos, que deixam de me pertencer toda a vez que  vejo gente.

Uma realidade ofuscada por coisas de que não lhes entendo o gosto. Coisas que não têm nome. Apenas escrever.