quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

“Não vale a pena chorar a crise”


Emanuel Spencer, empreiteiro de Santo Antão















Quando tanto se  fala em crise, Emanuel Spencer – sócio-gerente da Spencer Construções & Imobiliária (SCI), baseada em Santo Antão – diz encarar o futuro com optimismo. Com várias obras em curso naquela ilha, a sua empresa também tem em curso adjudicações em Angola e na Guiné-Bissau. Um caso único de internacionalização a partir de Santo Antão.


Maior empregador privado de Santo Antão, a SCI está sediada na Ponta do Sol, Ribeira Grande, sendo actualmente um nome incontornável na economia da ilha. Basta dizer que emprega cerca de 350 efectivos, 25 dos quais quadros superiores, sendo 10 estagiários. Aliás, uma das apostas da empresa passa, precisamente, na aposta em jovens quadros licenciados através de parcerias com instituições de ensino superior, nomeadamente a Uni-CV, ISCEE e Universidade do Mindelo, mas também com instituições congéneres do Brasil e Portugal.

Formação e inovação

Emanuel Rachid Spencer é um dos fundadores e sócio-gerente da Spencer Construções & Imobiliária, que, não obstante a crise internacional, se mostra optimista com o futuro. “Não vale a pena chorar a crise”, recomenda, quando questionado sobre o assunto.

 Talvez porque no caso da SCI a razão não seja para menos. Nos últimos cinco anos, os investimentos efectuados por ela em projectos próprios em Santo Antão ultrapassam os 700 mil contos. A isso soma-se os investimentos feitos por terceiros, mas ligados à SCI, que correspondem a mais de um milhão de contos, também no mesmo período. Com um aumento de facturação de 70 por cento a SCI empregava em 2010 cerca de 200 pessoas, passando a 350 em 2011. Esse número poderá, entretanto, aumentar para 500 em 2013.

Numa palavra, sobre a crise propriamente dita, Emanuel Spencer diz que ela não se faz sentir na SCI e defende que a melhor estratégia para driblar as dificuldades é através de investimentos. “Investir em áreas como agricultura, barragens, portos, aeroportos, significa apostar no crescimento e desenvolvimento económico dos país”, enumera.

E acrescenta em tom de aviso aos navegantes: “Deixar de investir no mercado imobiliário significa desemprego, falta de dinheiro. Pelo contrário, temos que injectar alguma energia para que o mercado possa se manter de pé, porque temos que continuar a lutar. Não vale a pena chorar a crise, os projectos não param, temos que movimentar o dinheiro para que as pessoas consigam sobreviver. Sou a favor da contenção, mas não desperdício ou do imobilismo”.

E, da parte que lhe toca, a SCI aposta na formação e modernização dos produtos e serviços como forma de atrair novos clientes. Uma das suas apostas, por exemplo, é o recurso a novas ferramentas de trabalho e divulgação, nomeadamente a tecnologia 3 D, através da qual os clientes poderão visualizar melhor o projecto antes de este ficar concretizado. Quatro arquitectos e dois desenhadores da SCI estão neste momento a ser formados.

Na mesma linha, SCI procura conhecer novas realidades e por isso tem apoiado missões dos seus quadros a eventos como a Feira Internacional de Artesanato e a FIC, ambas no Mindelo, ou então a Feira de Arquitectura, em Barcelona. “É necessário apostar na inovação e isto só acontece quando se entra em contacto com outras realidades. Na feira de Barcelona, por exemplo, os nossos quadros podem conhecer novos produtos, novos sistemas de design, novos materiais, numa palavra, podem expandir a sua criatividade para novas dimensões para podermos estar à altura de novos mercados”.

Extramuros, Angola e Guiné-Bissau já fazem parte do campo de acção da SCI. Neste mês de Janeiro arranca com a construção de um conjunto de habitações sociais na Guiné-Bissau, que irá abranger famílias de média e baixa renda. Estas habitações serão construídas em Bissau, Gabu e Bafatá e são realizadas em parcerias com entidades guineenses, sendo uma delas a Câmara Municipal de Bissau e o Instituto Nacional da Previdência Social daquela país irmão.

Na verdade, o projecto existe desde Junho passado, fruto de prospecções de mercado efectuadas após uma viagem feita àquele país, que Emanuel Spencer conhece bem, já que nele nasceu e viveu. Esta iniciativa contou com a colaboração de alguns empresários e com a Câmara Municipal da Ribeira Grande.

Em Angola já existe uma empresa de construção civil , a “Spencer Epgurb Construções, de que a SCI é sócia maioritária, com 65% do capital social. Aqui já tem a seu cargo ou disputa a construção de estradas em Bengo, Kwanza Norte e Kwanza Sul.

Emanuel Spencer afirma-se optimista quanto aos próximos tempos, sublinhando que esses investimentos representam, futuramente, a melhoria das condições económicas não só da SCI, como de Cabo Verde em geral e de Santo Antão em particular.

“A possibilidade de expandir o mercado lá fora significa aumentar a nossa carteira de clientes. Neste sentido, está prevista uma facturação de 50 milhões de dólares, o que corresponde em mais de 80% do mercado em Cabo Verde. Na primeira fase contamos enviar cerca de 50 trabalhadores, entre técnicos superiores; e, na segunda, mais 100, entre mecânicos, canalizadores, electricistas e outros. Já estamos a prepará-los neste sentido, através de formações”.

Consolidação do turismo

Apesar dos bons ventos externos, a SCI não se esquece do seu mercado inicial, Santo Antão. Segundo o seu “big boss”, a empresa vai continuar a apostar na melhoria da capacidade de recepção de turistas na ilha, o que passa pelo aumento do número de camas disponíveis.

Um exemplo de tal aposta é a construção de mais um aparthotel, o “Hotel Vista Oceano”, na Ponta do Sol, cuja  inauguração está prevista para Dezembro de 2013. A primeira fase do projecto começou em Setembro de 2008 e está orçado em 180 mil contos, para acolher 50 apartamentos, seis zonas comerciais e uma piscina. No total serão mais 130 camas disponíveis que contribuirão, sem dúvida, para a diminuição da carência da ilha neste sentido.

O Sinagoga Resort é um outro empreendimento também abraçado, conjuntamente, com a Câmara Municipal da Ribeira Grande e outros operadores, sendo a SCI o accionista maioritário com 42.5%. A primeira fase da obra termina também em Dezembro de 2013, com as 44 vivendas prontas na mesma altura, seguindo-se a segunda fase que consiste na construção de um hotel de 70 quartos, num total de 400 camas.

O entrevistado de A NAÇÃO acredita que Santo Antão tem de ter o seu lugar no turismo cabo-verdiano. “Temos que lutar para que Santo Antão se desenvolva em termos de turismo, porque trata-se de uma ilha com grandes potencialidades que precisam ser exploradas”, acrescenta.



Da sua parte, Emanuel Spencer diz nunca se ter arrependido de ter escolhido Santo Antão como o núcleo dos seus investimentos e que, pelo contrário, pretende continuar a apostar na ilha e nos jovens quadros, já que oportunidades de negócios no país e no estrangeiro é coisa que não falta. A crise, acredita, pode ser uma oportunidade de a Spencer Construções & Imobiliária ir mais longe na busca de novas metas.
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