Orlando
Delgado, em entrevista ao A NAÇÃO fala sobre os desafios e ganhos do concelho,
e deixa em aberto a possibilidade da sua recandidatura nas próximas eleições
autárquicas. Diz-se recompensado pelos ganhos que obteve nos seus dois
mandatos, apesar de admitir ser um grande sacrifício estar atrás de uma câmara
como presidente.
A nível do futuro política,
estamos a preparar a recandidatura?
Ainda
é cedo para falar na recandidatura. Eu sou a favor da limitação de mandatos, a
política não é uma profissão e nós não devemos eternizar em termos da política.
É bom que haja rotatividade, defendo isso. E depois há outros factores a nível
pessoal e familiar e partidários.
Ser presidente da câmara é
um sacrifício ou é um desafio?
É um
grande sacrifício, sobretudo a nível de Cabo Verde. Mas há sempre as recompensas,
sobretudo quando se sabe que se contribuiu para a resolução dos problemas do
município. É uma grande recompensa.
Qual é o seu maior feito nesses
seus dois mandatos?
Diria
que é a rede de abastecimento de água. Sinto-me recompensado, porque hoje todas
as famílias, mesmos as mais distantes têm uma torneira em casa. Foi de facto um
grande trabalho desenvolvido pela câmara e sinto-me orgulho em assumir isso. Além
disso há outros projectos como a infra-estruturação desportiva, a construção do
campo relvado, mas também em matéria de educação. Nós disponibilizamos por ano
12.000 contos para formação superior, valor superior ao das câmaras que têm
valores 4 vezes maiores. Neste momento
temos cerca de 140 jovens que beneficiam da bolsa da câmara, ou seja todos os
meses temos que arranjar cerca de 200.500 contos somente para essa actividade.
Escolas a fechar portas
Na última década o concelho
perdeu para mais de 3.000 pessoas, como é que explica isso?
Um
dos motivos é a falta de actividades que possam ocupar a mão-de-obra jovem, o
que obrigou a que muitos tivessem que ir viver para o Sal ou Boavista e que outros
fossem estudar nas ilhas de São Vicente e Santiago, acabando por encontrar
outras alternativas. Isto tudo fez com que houvesse esse decréscimo
populacional, factor que não se coaduna com o crescimento da ilha, penalizando,
desta forma, o concelho da Ribeira Grande.
Quais são as consequências
que isto trouxe?
Com
a diminuição da população nós estamos com uma situação em que, em várias zonas,
vamos ter que fechar escolas, como é o caso de Fontainhas. Esta escola foi
construída na década de 90, tinha 4 classes, 3 professores e uma biblioteca.
Hoje vai ter que ser fechada, porque não há crianças naquela localidade e nem
se vislumbra que num horizonte de 4 ou 5 anos venha a haver crianças naquela e
noutras povoações onde se está a caminhar para a mesma situação.
Casa Para Todos
Como pensa que se deveria
solucionar o problema da taxa de pobreza no concelho, sabendo que é uma das
mais elevadas do país?
Quanto
a mim, resolver o problema da habitação é reduzir a pobreza em mais de 30 ou
40%. Mas, para isso é necessário haver programas concretas nessa matéria,
programas que chegam as pessoas, não é a casa para todos, porque isso é mais
conversa do que outra coisa. É preciso conhecer-se a realidade efectiva das
populações, a forma como elas vivem.
Pode-se dizer então que não
concorda com esse projecto?
A
forma como o projecto está montado não se adequada aos condicionalismos do
concelho, com o nível de rendimento das populações. A maior parte das pessoas
não têm um rendimento que lhes permite aceder a esse tipo de habitação, mesmo
com a garantia em termos de pagamento.
Então, qual seria a melhor
solução para esse problema?
Sugeria que, no caso de Ribeira Grande ou em
outros concelhos do país, o Estado, conjuntamente com as Câmaras Municipais, elaborasse
um projecto em que uma parte viria das bonificações e a outra parte pago pelas
pessoas, mas feito tendo em conta o rendimento das mesmas.
Turismo pedestre
Acha que o concelho tem
potencialidades turísticas que possam vir a ajudar no desenvolvimento da ilha?
Sim,
o turismo é uma questão que começa a ganhar algum peso, sobretudo nos meses de
Novembro, Dezembro e Janeiro que são épocas altas em Cabo Verde, em
contrapartida com os países da Europa. Nós Temos a maior rede de caminhos
vicinais do país, portanto o turismo que se pode fazer aqui e um turismo essencialmente tracking em que as pessoas gostam de
andar a pé. Agora, nós temos é que criar as condições para isso.
Quais são os aspectos que têm
constituído os maiores entraves para o desencravamento do turismo?
Um
dos maiores constrangimentos é o problema dos transportes, sobretudo porque o
acesso ao concelho não é fácil. Para os turistas que vêem dos países emissores
como é o caso da Alemanha e Franca que são os turistas que mais visitam a ilha,
encontram grandes dificuldades para chegar aqui na ilha. Isto porque, para vir
para aqui têm que, primeiramente, passar pela cidade da Praia, depois vir a São
Vicente e só depois apanhar um outro
barco que os traga à Santo Antão e não há nenhuma cooperação entre os barcos e
os aviões. Este aspecto dificulta e muito que o turismo ganhe dinâmica e possa
assim contribuir para o Produto Interno Bruto (PIB) de Ribeira Grande e da
ilha.
O que é que a câmara tem
feito para solucionar o problema?
Nós
aqui na Ribeira Grande temos feito um investimento enorme na manutenção e
reparação permanente desses caminhos vicinais, bem com algum trabalho de
sinalização. Temos um guia especificamente para Santo Antão que foi, na altura,
elaborado pelo gabinete técnico municipal e os turistas que vêem para aqui já
conhecem todos os circuitos, sabem o grau de dificuldade que vão encontrar em
cada um dos circuitos e neste sentido, começamos a ter o turismo como um dos
pilares para o desenvolvimento futuro de Santo Antão.
Excesso de produção
Há o problema da falta de
escoamento dos produtos agrícolas da ilha. Como é isso possível se já existe há
quase um ano, um centro de expurgos na cidade do Porto Novo?
O
problema é que o centro de expurgos foi, a partida, mal conseguido. Primeiro
pela localização, segundo porque só entraria em funcionamento se,
paralelamente, fosse feito um sistema de transporte com barcos devidamente
equipados que fizessem o transporte para as outras ilhas. Por último, teria que
encontrar uma melhor forma de comercialização com um sistema de preços
garantidos.
Mas com o alargamento do
porto isto não pode melhorar?
Neste
caso, o problema não é o alargamento, porque, mesmo com a construção desse novo
porto, vamos ficar com o mesmo constrangimento. O alargamento do porto é uma
grande obra e vai trazer, sem dúvida, grandes benefícios, mas não é este o
problema que se coloca. Neste momento, o que é preciso é ter um projecto que
permita, efectivamente, que o centro possa funcionar.
A quem se deve cobrar essa
responsabilidade?
Aqui
a responsabilidade primeira é do Estado, porque somente ele é que pode encontrar
linhas de crédito e definir políticas sustentáveis para fazer aquilo funcionar.
Porque antes da própria construção com o financiador Millenium Challeng Account, poderiam ter apresentado ao financiador
um outro projecto que abrangesse outros aspetos.
O que é preciso fazer para
que não se transforme num investimento perdido?
Deve-se
fazer 3 coisas. Primeiro tem que se encontrar uma solução para o sistema de
transporte que possa unificar de forma permanente Santo Antão com a ilha do Sal
e da Boavista. Segundo, o projecto deve ser redimensionado, ou seja, teria de
se instaurar actividades complementares, para além da questão da agricultura.
Por último, teria que encontrar uma melhor forma de comercialização com um sistema
de preço garantido.
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