quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Momentos de inspiração com Hernani Almeida


Embriões de criminalidade atrapalham previsões da PN



 De acordo com dados da polícia nacional, a onda de criminalidade em São Vicente está a diminuir, sobretudo com a chegada da Brigada Anti - Crime, BAC, há seis meses. No entanto, os são-vicentinos mostram-se apreensivos quanto às sucessivas ondas de violência geradas entre adolescentes e crianças, muitas delas usuárias de drogas.

Há vários bairros em São Vicente onde o hábito de se sentar a porta de casa com os amigos a consumir drogas já se tornou um estilo de vida e os olhares que cobrem esses jovens e adolescentes são de pura anestesia, perante a realidade social que os cerca. A condição de pobreza é extrema e os objectivos são recalcados pela cultura de roubos e assaltos pelas ruas do Mindelo.

A situação complica-se, quando se observa que crianças compreendidas entre os 8 e os 13 anos, já vêm desde cedo acompanhando estas práticas. Muitas delas fazem parte de “Gangs” e já foram marcadas pela sociedade como “perigosas”, pelos sucessivos abusos e actos de violência contra colegas e transeuntes.

Alguns moradores das proximidades dessas regiões admitem ter receio de deixar suas crianças saírem às ruas sozinhas. “Já assisti um grupo de crianças a agredir uma rapariga no meio da rua”, conta Bem-vindo Silva, morador da Ribeirinha. “Queriam arrancar-lhe a bolsa e, se não fosse eu, não sei o que seria. Por isso sempre acompanho a minha filha à escola ou fico a vê-la daqui da porta até que ela chegue”.

Tenho medo de encontra-lo morto
Admilson é um caso entre muitos que já sofreu na pele os abusos desses grupos. Foi espancado com socos e pauladas por um grupo de crianças, enquanto brincava com um colega seu da escola. O seu amigo, José, conseguiu escapar e foi-se esconder numa mercearia que havia lá perto.

“Ribeirinha é o lugar mais perdido que há. As vezes tenho medo de sair e levar pancada, mas o medo maior é o de deixar o meu filho sair sozinho e depois encontra-lo morto”, desabafa o pai do rapaz, Anildo Gomes.Por isso sou muito rígido com ele. Faço de tudo para evitar que ele se integre com estes grupos, porque as vezes são obrigados a entrar e, se não o fizerem, são espancados”.

Segundo Maria Auxiliadora, moradora de Ribeirinha, a situação de vulnerabilidade em que se encontram essas crianças é alarmante e, se não houver nenhuma intervenção por parte das autoridades competentes, muitos ainda serão arrastados para o mesmo caminho, porque “mesmo quem não encontrem violência em casa, são influenciados pelos colegas. Se se é, constantemente vítima de violência por parte de colegas, acaba-se por se tornar violento também.

Perda de valores familiares
“A instituição família, está a desmoronar-se. Há falta de acompanhamento por parte dos pais”, afirma a animadora do Centro Orlandina Fortes, Paula Soares. “As vezes desconhecem a própria identidade dos professores que ensinam os seus filhos. Há muito individualismo no seio das famílias e isto impede que dialoguem com eles, que participem das suas vidas, para que os possam auxiliar devidamente”.
As crianças que vivem nesses bairros estão, diariamente, expostas a situações de vulnerabilidade, tanto dentro de suas próprias casas como nas ruas. Segundo a psicóloga, Lenilda Brito, casos de pais alcoólicos ou usuários de droga são cada vez mais frequentes, para além do uso descontrolado de estupefacientes pelas ruas. “Consomem e depois deitam os restos no chão que depois são reaproveitados pelas crianças”.
Adianta ainda que, “A polícia não consegue fazer nada se não houver ajuda. Mesmo os centros, por mais acções que possam realizar, não substituem as famílias. É um apoio, mas não conseguem suprir todas as lacunas”, afirma.


Fazer a diferença

O centro Orlandina Fortes, é um exemplo vivo de como é possível fazer a diferença. Apesar das poucas condições e da falta de espaço, conseguiu integrar cerca de 53 crianças no projecto, 26 de manhã e 27 de tarde.

O objectivo é integrar estas crianças em actividades recreativas como a pintura, a reciclagem, a música e o desporto, para que elas preencham os seus tempos livres da melhor forma possível, evitando que fiquem pelas ruas expostas aos perigos. Para além disso, trabalham a auto-estima das mesmas que, segundo a animadora, na maior parte das vezes é negligenciada pela ausência afectiva dos pais.

“O nosso objectivo maior é trabalhar a auto-estima dessas crianças. A pintura, por exemplo, é uma óptima forma de elas expressarem a sua identidade, sua forma de pensar e de sentir. Nós não nos limitamos somente a ensinar a técnica, mas também faze-las sentir que são úteis”.

“Células cancerígenas em expansão”
Houve quem se referisse a este problema como “Células cancerígenas em expansão”, que se não diagnosticadas a tempo podem significar a emergência de um estado de “cronicidade” para a sociedade cabo-verdiana.

Segundo a psicóloga, Haidea Lopes, para resolver o problema é necessário que haja sintonia entre as entidades estatais e a sociedade civil, no sentido de reforçar e dinamizar as capacidades locais e centrais.
“Urge uma intervenção precoce neste sentido, estimulando os valores familiares, os valores de vizinhança e de união. Mas para isso é necessário fazer-se um estudo aprofundado para o desmantelamento deste problema”.

sábado, 19 de novembro de 2011

Terra




Passo as minhas mãos
Pela tua fronte perdida.
Sinto a ruguês das tuas encostas,
O latejar no teu coração
Que ainda canta o seu povo.

Vozes que vêm de dentro,
 Num som profundo
Que me tocam em segredo,
Suplicando em desespero
Que Deus os venham buscar,
Que os atirem para longe
Do desapego da sua gente,
Desejando reviver tempos
Que outrora os fizeram felizes.

Canto para que partam,
Na lembrança daqueles
Que um dia os escreveram em versos,
Os pintaram com as suas cores,
Os tocaram com as cordas do violão,
E os embalaram com melodiosas canções de amor.

Rezo em silêncio suplicando
Um destino diferente para ti,
Diferente do meu
Do nosso
Que os teus passos
Não se percam do caminho
Do verdadeiro sentido da vida
Que a tua essência seja perpetuada
Cultivada por este chão

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Amor infinito




Vejo a minha frente
Uma folha de papel laranja
E no fundo uma pincelada a aguarela,
Desenhando a silhueta de uma mulher
Penso na minha mãe.
A partir daqui, já não sei dizer mais nada.

Palavras de um REI


Quem são estas pessoas que me prendem, estas mãos, estes rostos? Quando olho para trás não vejo nada, mas se paro, sinto, ouço vozes, ouço o meu nome. De quem são estas marcas em que piso, estes traços?

Do nome não lhes sei lembrar e nem quero. Só não me venham delimitar os meus versos, não corrijam aquilo que só da vossa alma escura vem. Sai às pressas, a procura daquilo de que não gosta, com o pretexto das minhas letras.

Minha dor nada tem a ver com esses magnatas. Reis da palavra e dos versos todos. Reis de tudo e de coisa alguma, quando nem o nada se considera vazio e todos acham que sabem, quando o desconhecimento é total, porque a sabedoria só não vira pó se passar por mim como penugem.

De quem são estas palavras negras. De onde vem esta impetuosidade, esta grandeza de espírito? E este silêncio que paira quando parece já estar tudo dito?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Conto de rimas falsas





Rimas só em versos
E mesmo assim se existirem
Porque os criei perdem a beleza.
Ensaio personagens
Traço caminhos que não chego a seguir.
Vivo os argumentos,
Vegeto neste conto de rimas falsas.


Falsa modéstia,
 Falsos versos,
Quando meu espírito livre
Grita por este corpo que o prende,
Que o dilacera.
Esconde, foge da sua identidade,
Ímpar,
Individual.
Quer ser como os outros,
Um pedacinho de cada um,
 Porque insanamente
Estes pedaços constroem
Um corpo perfeito.

Falsas nuvens,
Mundo cinzento,
Jogo de desespero,
 Luta desigual,
Fumaças e cinzas
Que ofuscam a nitidez das pedras,
 Das rosas, do ar.

Neblina,
Camadas de superfície,
Salinas do meu sangue
Que embaçam a atmosfera dos homens
E não os deixa respirar.
 Fervilhão de poeiras que me fazem sentir
Que estou a milhares de anos-luz
Do meu ser
E a terra embaça
Não sinto a superfície
As minhas pernas não respondem
Ar agreste aspira
As ultimas gotas de suor que me restam

Por isso esse mar desconhecido
Estes pés de cal
Este olhar atrofiado
Este coração que foge dos intentos da carne
Este ar que mal entra
Este corpo que não responde


E por isso este eu que não sou
Aquele que invejo
Mais um outro que sou
Mas que não conheço.

Sinais

Não me importa o limiar dos teus pensamentos
Prenhe de coisas de que não posso tocar
Imunda talvez,
De sensações luxuriantes e desejos
Vaidade pura de neles não conseguir ler
Senão em fantasias minhas.

Indeterminações.












Há quanto tempo não pinto minha alma?
Tempo demais em que não me vejo
Estampada nestas linhas.
Ao invés disso, apenas rabiscos sem sentido,
Para que depois não possa me queixar,
Com medo de males maiores.
Rabiscos como estes,
Sem nenhum significado maior
Apenas indeterminações.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Santo Antão: Novos projectos renovam Planalto Leste.



O cenário da zona do Planalto Leste nos últimos anos não tem sido dos melhores, sobretudo pelos sucessivos incêndios e secas intensas que se tem vindo a verificar. No entanto, já se pode notar alguns avanços com programas já implementados bem como uma visão menos conturbada para os próximos tempos.

Uma das questões que têm preocupado as entidades neste momento é a questão das mudanças climáticas. Este ano, as previsões meteorológicas não foram das melhores ao contrário do que aconteceu no ano passado, facto que se traduz em graves problemas não só para os agricultores em si como também para o meio ambiente com a questão da erosão dos solos.

“Toda a gente sabe que as mudanças climáticas são uma realidade”, afirma o coordenador do projecto “Adaptação às Mudanças Climáticas”, Orlando Freitas. “Tivemos dois anos de chuva, aparentemente as coisas estavam a mudar e aqui estamos nós em 2011 que prova que as mudanças climáticas são fenómenos que temos que nos consciencializar, principalmente no que diz respeito a erosão dos solos”.

Combater a erosão

Para este ano, está programado serem plantadas 166.000 plantas em vários pontos do Planalto. Neste momento já existem mais de 90.000 plantas cultivadas. O programa está a ser financiado pelo Fundo Global para o Ambiente (GEF).

O objectivo é reter os terrenos através da plantação de babosas no sentido de combater a erosão, ajudando, desta forma, os agricultores a terem melhores rendimentos.  
“Obtamos pelo cultivo da babosa, porque se fossemos construir socalcos seria muito dispendioso e o nosso orçamento não chegaria para cumprir os objectivos delineados”, reconhece Orlando.

Para o futuro está previsto o reaproveitamento desta planta para o fabrico de produtos cosméticos, diminuindo as exportações que se faz do mesmo para a exploração industrial em Cabo Verde. Para além disso, o projecto visa trabalhar junto das pessoas, no sentido de consciencializa-las acerca do fenómeno das mudanças climáticas bem como apontar caminhos no sentido de tirarem proveito dos recursos de que dispõem.

Áreas protegidas
Para além desse plano que já está em andamento, está previsto a implementação de um outro projecto “Instalação de Áreas Protegidas”, através da construção de três parques naturais. Dois deles serão construídos no Planalto e outro em São Vicente.
Só no Planalto podem ser encontradas mais de metade das plantas endémicas existentes em Cabo Verde. Neste momento algumas correm sérios riscos de extinguirem-se derivados aos problemas que têm enfrentado naquela localidade. É neste sentido que surge este programa, no intuito de preservar a biodiversidade que existe no país.

“Temos um estudo minucioso como ponto de partida, ligado a diversidade desse planalto”, adianta o coordenador do projecto, Emitério Ramos. “Possivelmente antes do fim deste ano, o estudo será iniciado, onde haverá pessoas especializadas na área para nos ajudar a identificar toda a vegetação aqui existente, para que possamos diferenciar cada tipo dessas plantas endémicas”.
A par desses programas, estão a ser desenvolvidos trabalhos ligados a comunidades locais no sentido de criar condições para que possam tirar proveito dos recursos disponíveis de forma sustentável. A ideia é ensinar-lhes a conservar e explorar esses recursos sem ameaçar a existência dessas espécies no futuro próximo.

Para o próximo ano também será dado à população uma linha de crédito para apoiar actividades geradoras de rendimentos de pequenos projectos. Essa linha de crédito será financiada pelo fundo mundial pró ambiente – (FMPA - Florida Municipal Power Agency) e Co-financiado pelo governo de Cabo Verde, num valor de 4 milhões de dólares para a primeira fase.

Um exemplo a ser seguido
Ocília é um exemplo entre poucas que começa a aproveitar esses recursos existentes como o sisal para fazer bolsas, rendas, cestos, bolsas de telemóvel entre outros. Começou a desenvolver esta prática, segundo conta, após uma formação realizada de Agosto a Setembro do ano passado, ministrada a 16 associações comunitárias.

Por enquanto, diz ela, “é feito apenas por diversão, porque não temos mercado e também porque não possuímos os equipamentos necessários para podermos aumentar a produção. Não é algo que se pode tirar o sustendo da família. Será um ganho sim, mas no futuro, quando houver mais financiamentos ou mesmo um espaço de venda”.

Cada peça é vendida por 250 escudos cabo-verdianos, e geralmente, quem compra são os turistas. Por enquanto não é algo que lhes garanta o sustento de suas famílias, mas mostram-se optimistas quanto ao futuro, porque vêem nestes projectos oportunidades para mudarem as suas vidas.
                                                                  Samira Silva e Sibelle Martins 

Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Santo Antão “Ser presidente da câmara é um grande sacrifício”






Orlando Delgado, em entrevista ao A NAÇÃO fala sobre os desafios e ganhos do concelho, e deixa em aberto a possibilidade da sua recandidatura nas próximas eleições autárquicas. Diz-se recompensado pelos ganhos que obteve nos seus dois mandatos, apesar de admitir ser um grande sacrifício estar atrás de uma câmara como presidente.

A nível do futuro política, estamos a preparar a recandidatura?

Ainda é cedo para falar na recandidatura. Eu sou a favor da limitação de mandatos, a política não é uma profissão e nós não devemos eternizar em termos da política. É bom que haja rotatividade, defendo isso. E depois há outros factores a nível pessoal e familiar e partidários.

Ser presidente da câmara é um sacrifício ou é um desafio?

É um grande sacrifício, sobretudo a nível de Cabo Verde. Mas há sempre as recompensas, sobretudo quando se sabe que se contribuiu para a resolução dos problemas do município. É uma grande recompensa.

Qual é o seu maior feito nesses seus dois mandatos?

Diria que é a rede de abastecimento de água. Sinto-me recompensado, porque hoje todas as famílias, mesmos as mais distantes têm uma torneira em casa. Foi de facto um grande trabalho desenvolvido pela câmara e sinto-me orgulho em assumir isso. Além disso há outros projectos como a infra-estruturação desportiva, a construção do campo relvado, mas também em matéria de educação. Nós disponibilizamos por ano 12.000 contos para formação superior, valor superior ao das câmaras que têm valores 4  vezes maiores. Neste momento temos cerca de 140 jovens que beneficiam da bolsa da câmara, ou seja todos os meses temos que arranjar cerca de 200.500 contos somente para essa actividade.

Escolas a fechar portas       

Na última década o concelho perdeu para mais de 3.000 pessoas, como é que explica isso?
Um dos motivos é a falta de actividades que possam ocupar a mão-de-obra jovem, o que obrigou a que muitos tivessem que ir viver para o Sal ou Boavista e que outros fossem estudar nas ilhas de São Vicente e Santiago, acabando por encontrar outras alternativas. Isto tudo fez com que houvesse esse decréscimo populacional, factor que não se coaduna com o crescimento da ilha, penalizando, desta forma, o concelho da Ribeira Grande.

Quais são as consequências que isto trouxe?
Com a diminuição da população nós estamos com uma situação em que, em várias zonas, vamos ter que fechar escolas, como é o caso de Fontainhas. Esta escola foi construída na década de 90, tinha 4 classes, 3 professores e uma biblioteca. Hoje vai ter que ser fechada, porque não há crianças naquela localidade e nem se vislumbra que num horizonte de 4 ou 5 anos venha a haver crianças naquela e noutras povoações onde se está a caminhar para a mesma situação.

Casa Para Todos

Como pensa que se deveria solucionar o problema da taxa de pobreza no concelho, sabendo que é uma das mais elevadas do país?

Quanto a mim, resolver o problema da habitação é reduzir a pobreza em mais de 30 ou 40%. Mas, para isso é necessário haver programas concretas nessa matéria, programas que chegam as pessoas, não é a casa para todos, porque isso é mais conversa do que outra coisa. É preciso conhecer-se a realidade efectiva das populações, a forma como elas vivem.

Pode-se dizer então que não concorda com esse projecto?

A forma como o projecto está montado não se adequada aos condicionalismos do concelho, com o nível de rendimento das populações. A maior parte das pessoas não têm um rendimento que lhes permite aceder a esse tipo de habitação, mesmo com a garantia em termos de pagamento.

Então, qual seria a melhor solução para esse problema?

Sugeria que, no caso de Ribeira Grande ou em outros concelhos do país, o Estado, conjuntamente com as Câmaras Municipais, elaborasse um projecto em que uma parte viria das bonificações e a outra parte pago pelas pessoas, mas feito tendo em conta o rendimento das mesmas.

Turismo pedestre

Acha que o concelho tem potencialidades turísticas que possam vir a ajudar no desenvolvimento da ilha?

Sim, o turismo é uma questão que começa a ganhar algum peso, sobretudo nos meses de Novembro, Dezembro e Janeiro que são épocas altas em Cabo Verde, em contrapartida com os países da Europa. Nós Temos a maior rede de caminhos vicinais do país, portanto o turismo que se pode fazer aqui e um turismo essencialmente tracking em que as pessoas gostam de andar a pé. Agora, nós temos é que criar as condições para isso.

Quais são os aspectos que têm constituído os maiores entraves para o desencravamento do turismo?

Um dos maiores constrangimentos é o problema dos transportes, sobretudo porque o acesso ao concelho não é fácil. Para os turistas que vêem dos países emissores como é o caso da Alemanha e Franca que são os turistas que mais visitam a ilha, encontram grandes dificuldades para chegar aqui na ilha. Isto porque, para vir para aqui têm que, primeiramente, passar pela cidade da Praia, depois vir a São Vicente e  só depois apanhar um outro barco que os traga à Santo Antão e não há nenhuma cooperação entre os barcos e os aviões. Este aspecto dificulta e muito que o turismo ganhe dinâmica e possa assim contribuir para o Produto Interno Bruto (PIB) de Ribeira Grande e da ilha.

O que é que a câmara tem feito para solucionar o problema?

Nós aqui na Ribeira Grande temos feito um investimento enorme na manutenção e reparação permanente desses caminhos vicinais, bem com algum trabalho de sinalização. Temos um guia especificamente para Santo Antão que foi, na altura, elaborado pelo gabinete técnico municipal e os turistas que vêem para aqui já conhecem todos os circuitos, sabem o grau de dificuldade que vão encontrar em cada um dos circuitos e neste sentido, começamos a ter o turismo como um dos pilares para o desenvolvimento futuro de Santo Antão.

Excesso de produção

Há o problema da falta de escoamento dos produtos agrícolas da ilha. Como é isso possível se já existe há quase um ano, um centro de expurgos na cidade do Porto Novo?

O problema é que o centro de expurgos foi, a partida, mal conseguido. Primeiro pela localização, segundo porque só entraria em funcionamento se, paralelamente, fosse feito um sistema de transporte com barcos devidamente equipados que fizessem o transporte para as outras ilhas. Por último, teria que encontrar uma melhor forma de comercialização com um sistema de preços garantidos.

Mas com o alargamento do porto isto não pode melhorar?
Neste caso, o problema não é o alargamento, porque, mesmo com a construção desse novo porto, vamos ficar com o mesmo constrangimento. O alargamento do porto é uma grande obra e vai trazer, sem dúvida, grandes benefícios, mas não é este o problema que se coloca. Neste momento, o que é preciso é ter um projecto que permita, efectivamente, que o centro possa funcionar.

A quem se deve cobrar essa responsabilidade?
Aqui a responsabilidade primeira é do Estado, porque somente ele é que pode encontrar linhas de crédito e definir políticas sustentáveis para fazer aquilo funcionar. Porque antes da própria construção com o financiador Millenium Challeng Account, poderiam ter apresentado ao financiador um outro projecto que abrangesse outros aspetos.  

O que é preciso fazer para que não se transforme num investimento perdido?
Deve-se fazer 3 coisas. Primeiro tem que se encontrar uma solução para o sistema de transporte que possa unificar de forma permanente Santo Antão com a ilha do Sal e da Boavista. Segundo, o projecto deve ser redimensionado, ou seja, teria de se instaurar actividades complementares, para além da questão da agricultura. Por último, teria que encontrar uma melhor forma de comercialização com um sistema de preço garantido. 

Bacias hidrográficas em Santo Antão e São Nicolau



Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR) lança projecto para a implementação de bacias hidrográficas em Ribeira da Torre, Alto Mira e Ribeira Prata (São Nicolau). As equipas técnicas já estão criadas e o início das construções está previsto para o mês de Dezembro.

Trata-se de um projecto de intervenção integrado nas bacias hidrográficas dessas regiões onde as potencialidades para o desenvolvimento agrícola são muitas e que merecem ser exploradas. O objectivo é o de minimizar o índice de pobreza nessas bacias e aumentar a produção.

A obra está orçada em 820.000.000 de escudos cabo-verdianos (ECV), financiada pelo Governo de Cabo Verde e pelo Banco Árabe para o Desenvolvimento Económico (BADE) cujo valor investido corresponde a 738.000.000 de escudos.

Desespreso



































Minha alma indolente,
Renasceu dos infinitos céus
Com represálias sobreviveu
Bem vivida como a terra que eu piso
Como os sovacos com que me pareço

Alma minha perdida
Que mais parece um caixão cheio de flores
Que engana qualquer que se ouse aproximar
Veneno de morte aos que dela se embebedaram
Pobretões ignorantes
Que nem se identificam como gente
Por deles só saberem cortejar na mágoa dos que falharam por eles
Na mágoa de eu ser gente.

Aonde vais meu eu
Que não te deixo sair por aquela porta
Por medo de não mais virares para mim
Com a luz que te cega e te nega o direito de seres eu
Por de mim nada esperares senão inimizades
E por eu não te deixar sair por aquela porta.

Lombinho Branco




















Água,
Montanhas escarpadas,
Biquinho,
Ribeira,
Lombinho branco.


Lugar onde se refugia
Os meus pensamentos
Quando o chão aquece,
E o ar condensa.

Que maravilha aquele lugar!
Onde se vive a terra,
Tudo comunica
E a paz é total,
Onde se é realmente livre.


Um recanto especial,
Refúgio perfeito.
Como eu gostaria de poder regressar!

terça-feira, 8 de novembro de 2011


Vasco Martins, homem da terra e que dela se inspira para criar, moldar a essência musical destas ilhas, com sinfonias e músicas brilhantes, que por momentos nos fazem esquecer das coisas vãs, e entrar no mais profundo do nosso ser para reencontrar realmente quem nós somos.

É difícil descrever o Vasco, até porque como ele mesmo diz, prefere que sejam os outros a descobrirem quem é. Mas a sua essência não se desintegra da música, intercalando nesta o florescimento daquilo que é e que continua a procurar nele mesmo como ser humano.

Homem humilde e generoso na sua essência, com uma simplicidade que desbota do seu olhar, dos seus sentidos e uma capacidade genuína de poder captar as vozes da natureza: suas mutações, os ruídos, a sua textura e tudo o que nela floresce.

Nascido em Queluz, Portugal, em 1956, filho de pai cabo-verdiano e mãe portuguesa, junta-se a família paterna em 1965 em São Vicente, terra que tanto o inspira e que possui no seu seio o seu local sagrado, o Monte Verde que é o lugar onde se encontra consigo próprio e onde consegue comunicar-se com o cosmo, com a natureza.

O sentimento que desenvolveu pelo Monte Verde, segundo ele, é mais do que paixão. A sensação que tem quando sobe lá em cima é a da comunicação com o absoluto e com o Universo: “há mutação das nuvens, o ar vivo, fresco; plantas endémicas, falcões de voos estacionários, águias, terra argilosa (bom para andar descalço), pedra de origem basáltica e calcário, brumas, nevoeiro: boa alquimia”. Visitou o Monte Verde pela primeira vez quando tinha 16 anos e desenvolveu logo um fascínio pela montanha. “Ver o universo do alto e sobretudo as brumas, o nevoeiro (lembro-me perfeitamente dessa sensação).”

Seu pai morreu aos 53 anos de idade. Caracteriza-o de um “Dandi”, “um bom viva, um músico amador virado para uma certa vivência mindelense”, apesar de começar a se relacionar com ele tardiamente, devido as diversas viagens que fazia por causa da função que desempenhava (bancário). A partir de determinada altura, por volta do 16/17 anos é que começou a conhece-lo melhor e a compreender a sua personalidade. Já a sua mãe, de 82 anos, é vista por ele como uma Árabe do Algarve – meio alentejana, meio algarvia. Embora separados pela distância (porque a sua mãe vive no Algarve) mantém uma relação de cumplicidade e carinho, assim como com os seus dois filhos. 

Assim como ele mesmo diz, ainda encontra-se a procura de si próprio. O facto de estudar o budismo há cerca de 15 anos ajuda-o imenso, apesar de não se considerar um budista no sentido da vida. POr enquanto diz que prefere ficar pelos ensinamentos, na força intelectual, na liberdade e abertura espiritual que lhe proporciona. Tres características que o ajuda a desenvolver mais as suas faculdades comunicativas entre a sua mente, o seu corpo e o seu espírito.

Não se considera uma pessoa especial, mas sente que se encontra numa etapa da vida, num caminho que as vezes tem a impressão de que está um bocado sozinho, apesar de não estar. Sente que a evolução do seu caminho espiritual e da sua música, encontram-se num patamar em que, as vezes, é necessário uma melhor comunicação com as pessoas.
Aquilo que sente (as suas aspirações) é exteriorizado por meio da música, embora seja mais abstracta (facto que o faz ter uma inclinação maior por ela) e com a poesia, apesar de escrever cada vez menos. Considera que as palavras são importantes sim, mas ficariam incompletas se não existisse a música, aquela que traz consigo o lado mais humano das pessoas, aquela que o identifica como pessoa. 

Recorda-se que, aos 9 anos de idade, gostava de cantar as músicas dos Bittles, apesar da sua paixão pela música começar a se desenvolver por volta dos 16/17 anos, quando começou a estudar piano com a sua tia Lili, na cidade do Mindelo.


Foi viver para o Madeiral há cerca de 5 anos, porque achou que na cidade o seu canto do coração estava nublado. A sua essência enquanto pessoa, enquanto permanece nas cidades é diferente daquela que tem quando está em contacto directo com a natureza. “Nas cidades há um envolvimento mais humano, mas também há uma espécie de defesa. Dpobarulho, o extresse demasiado dos carros e mesmo das pessoas.” Diz que é difícil estar nesta situação e ser a mesma pessoa do que quando se está na natureza, porque, segundo ele, na natureza conseguimos ser aquilo que verdadeiramente somos.

Diz que nas cidades tem-se a impressão de se estar desligado da natureza," entretanto tudo não passa de uma ilusão, porque sem a natureza não se pode viver, porque é de lá que vem o oxigénio, de lá é que vem toda a orgânica da vida. Sente que, quando se afasta da cidade tem-se uma ligação maior com a natureza, porque está-se mais próxima dela. Tanto na cidade como no campotudo está, mas claro que a cidade coíbe essas relações, com demasiado barulho, demasiado extresse, o que dificulta depois a penetração e a comunicação com a natureza".

Nas cidades, diz ele, "há uma espécie de teatro que nos envolve e é difícil ser-se aquilo que verdadeiramente se é". Admite já estar habituado com a vida do campo, longe das cidades, facto que torna cada vez mais difícil estar do outro lado, apesar de não desconsiderar a importância das cidades.

Uma frase escrita por ele que está no “Quiet Moment” diz que “só no silêncio se pode construir belas coisas. É uma espécie de realização do absoluto que há em nós próprios.” Diz ele que há muita gente que não suporta o silêncio, que não suporta nem o latejar do próprio sangue ou o bater do coração.


Considera-se um afortunado pela vida - realizou tudo aquilo que queria dentro da música, na investigação, na poesia -, para além da sua vida pessoal com os amigos, “de vez em quanto um bom vinho do Alentejo”, e com a sua família que ele caracteriza de atómica.

Se a vida lhe propusesse a questão de ter de escolher um outro lugar para viver, ele diria os Himalaias (nas encostas), no Norte da Índia ou no Sul do Nepal. “Talvez 4 meses nos Himalais, depois 2 a dar concertos nas cidades e 6 meses em cabo verde.”

Possui uma enorme generosidade e optimismo na forma como encara a vida, sobretudo paciência para aceitar as coisas como elas são. Diz ele que “muitas vezes o pessimista, no fundo é uma pessoa optimista bem informado”. Não acredita que consigamos realizar tudo aquilo que queremos, mas com energia, esforço e vontade conseguimos realizar as Coisas que, verdadeiramente, nos vem do coração, no seu sentido mais puro.

Caracteriza o homem cabo-verdiano como um ser duro, derivado, sobretudo dos 500 anos de história (grandes fomes, escravaturas, …), que o faz desligar das coisas mais preciosas, vindas da alma, em prol da competitividade, que só o faz se desvirtuar do verdadeiro sentido da vida. Ele afirma que está na altura de se começar a trabalhar os espíritos.

Quanto a cultura cabo-verdiana, afirma que nunca houve na história da cultura de cabo Verde tantos artistas e que a nossa música e alguma literatura hoje são mais reconhecidas lá fora, para além do historicismo da mesma que está cada vez mais presente em obras que referenciam os grandes nomes que contribuíram para o enriquecimento da cultura. Por outro lado, fala da não existência de mecanismos de protecção e divulgação daquilo que se vai produzindo.


Vasco martins, homem generoso, que gosta de contemplar as coisas, observar o universo: ultimamente as coisas que mais gosta de fazer é a contemplação do mar, lua, montanhas, meias encostas, colinas, sol, luz, natureza.

“Quando andamos em cima da terra (do planeta), quando respiramos, respiramos o oxigénio do planeta. Estamos no espaço de tempo que é o espaço de tempo do universo e sem o espaço-tempo há um colapso no Universo, o cosmo não existe. O cosmo precisa de um observador e nós somos o próprio observador. Portanto, ou temos consciência dessa ligação e vamos com ela e nos faz bem e fazemos bem ao próprio ambiente (porque o homem é o ambiente e o ambiente é o homem), ou não temos essa consciência e há um corte e esse corte é que faz a maior parte das infelicidades e da incompreensão. “