O Centro de tratamento e certificação de produtos agrícolas do Porto Novo, inaugurado há mais de um ano para facilitar o escoamento daquilo que se produz em Santo Antão para outras ilhas, não tem data marcada para começar a funcionar. Enquanto isso os agricultores da região enfrentam graves dificuldades para escoar batata comum e outras verduras, acabando por perder boa parte da colheita.
Segundo a coordenadora do centro, Flávia Silva, o espaço ainda não tem previsão para começar a funcionar devido à falta de operadores marítimos para fazer a ligação com as ilhas do Sal e da Boa Vista, que constituem mercado promissor para o consumo das hortaliças, batata, mandioca e outros produzidos em Santo Antão. Entretanto Silva avança que neste momento dois operadores, um de São Vicente e outro da cidade da Praia, estão a efectuar estudos de viabilidade do projecto, mas ainda não deram sinal de avançar.
“Além de operadores marítimos, estamos neste momento a contactar pessoas interessadas em comercializar o produto nessas ilhas que poderão fazer a mediação com os hotéis e também desenvolvemos um trabalho de fundo com os agricultores para que possam produzir de forma sincronizada e dar resposta às necessidades do mercado que possui uma periodicidade fixa para a recepção de produtos”.
Agricultores em dificuldades
Sem data prevista para a abertura do centro, os agricultores continuam a enfrentar graves dificuldades para escoar seus produtos. Por ano cada agricultor gasta em média 15 mil escudos no cultivo da batata, valor correspondente a 500kg de batata. Mas devido à falta de um local adequado para a armazenagem e de mercado para escoar os produtos, vendem a colheita a qualquer ou vêem-na estragar ali mesmo nas hortas.
Neste momento, estão a vender um quilo de batata por 60 escudos e a tendência é que o preço baixe à medida que a produção aumenta, principalmente da zona de Martiene. Este facto vem prejudicando os agricultores todos os anos, porque para além de mais de metade das batatas estragar, a quantia que conseguem arrecadar nas vendas não chega para sustentar as respectivas famílias.
“Semeamos normalmente 50 kg de batatas para colhermos cerca de 500kg. Se vender por um kg por 60 escudos normalmente só consigo arrecadar cerca de 30 mil escudos, tirando a parte que se estraga. Desse valor tenho que retirar 22 mil escudos para cobrir as despesas com a sementeira, portanto não sobra quase nada”, explica o agricultor Januário Cruz, de Martiene.
O mau sistema de troca
A falta de condições para a comercialização dos produtos preocupa os agricultores que se dizem explorados pelos negociantes vindos de São Vicente. É que, comprando cada kg de batata por um preço tão baixo, chegam em São Vicente e revendem aos comerciantes por um preço muito elevado.
De ano para ano a situação torna-se mais complicada com a diminuição da procura, com o agravante que é a falta de um local de armazenamento. “Nós não nos deslocamos com mais de 500 kg de batatas, porque corremos sérios risco de regressar com ela para casa novamente. Às vezes é difícil escoar 50kg de batatas”, conta Januário.
O Centro de Tratamento de Produtos Agrícolas de Santo Antão (CTPA – SA) foi inaugurado a 15 de Outubro de 2010 com a função de licenciar os produtos que, após serem inspeccionados seriam devidamente embalados, poderão ser enviados para mercados como Sal e Boa Vista. Isso tudo para impedir que a praga do mil-pés espalhe de Santo Antão para outras ilhas.
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