A poesia morreu desde o momento em que os olhares se embaciaram e não se consegue mais ver o outro. Quando o nosso corpo incompreendido, desconhecido até, nos desperta apenas desejos carnais.
Não consigo tocar-te, não consegues tocar-me, não sei quem sou, nem quem és. Não te conheço, não me conheces. Somos parentes, somos amigos, somos gentes. A mesma forma, as mesmas curvas, os mesmos gestos. Tudo corpo. Apenas corpo. Mas não consigo tocar-te.
A poesia do homem esgueirou-se por entre as trevas do inconsciente. E ficou lá. Os olhares todos virados para o chão. As mãos serradas em punho. Depois vem o silêncio. Mais silêncio ainda. E até este é mal compreendido, porque não o sabem tocar.
Não consigo ser eu, porque sou sempre os outros. E os outro somos nós. De repente não somos ninguém. Não há espaço para tantas almas perdidas.
Morreu o eu, o nós. Ou adormeceu. Se pensar que sim, talvez ainda haja uma esperança.
O reencontro talvez esteja próximo. Mas a luz será forte demais, não o conseguiremos suportar.
Depois de tanto tempo de escuridão.
Ouço música. Penso...Toco-me por dentro. Sinto-me...
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